Por um instante...
Olá a todos, espero que se encontrem bem neste tempo difícil pelo que passamos. Trago aqui o segundo conto do desafio "Atreves-te a escrever?" lançado pela Vera Barbosa e Elisabete Martins Oliveira no Instagram. Espero que seja do vosso agrado.
Já vou avisando que é um conto um pouco pesado. Aguentem firme, leitores.
"Novamente esse rosto.
Acho que estou a ser seguida(o)..."
Avanço lentamente, já faz cinco dias que o vejo onde vou. E a olhar para mim. Não o conheço, mas está sempre onde estou, faz as mesmas coisas que eu. Na biblioteca lê o mesmo que leio. Até parece que me anda a estudar.
Estou à espera do autocarro. Ele está na rua da frente. Não o olho diretamente, no entanto, sei que me observa. O autocarro está atrasado e começa a escurecer. Por amor de Deus, vem logo!
Um carro passa por mim a toda a velocidade e distraio-me, parecia uma jovem ao volante. Que maluca! Quando volto a mim, não vejo ninguém. Desapareceu.
Merda.
Olho em volta assustada, mas continuo sem o encontrar. Talvez tenha ido embora. Isso. Volto-me para a frente e olho de novo para o relógio. Mas onde está o autocarro?!
Um braço envolve-me a cintura e enquanto olho para baixo, assustada, vejo uma mão com um pano a vir em minha direção à minha cara. Tapa-me a boca.
Clorofórmio.
Apaguei.
****
Sinto dor. Algo se mexe. Acho que sou eu... não, não sou apenas eu. Sinto algo molhado, mais dor. Como se estivessem a abrir-me as entranhas. Algo se mexe dentro de mim. Sinto nojo, repulsa. Não consigo ver nada, devem ter-me vendado. Tento mexer-me e nada. Estou amarrada. Quero gritar, mas ele amordaçou-me.
Continua a investir em mim com toda a vontade. Não está a usar preservativo.
Começo a chorar. Mas colaboro.
Oh Deus... por favor, faça com que acabe rápido e que ele me deixe viver.
Ele continuou a investir dentro de mim. A dada altura aumentou a velocidade.
Ouço-o a gemer. Sinto o suor dele.
Aperta-me as coxas, espeta as unhas. Só sinto nojo, de resto estou vazia. Continua a aumentar a velocidade, sei que está quase a vir-se pelo seu respirar rouco.
Veio-se. Dentro de mim.
Assim que o fez deitou-se sobre mim a recuperar as forças. Disse-me:
- Não é nada pessoal, mas sabia que ias ser uma boa foda.
Nem me mexi.
Foi-se embora e deixou-me lá, sozinha, no meio do nada, de noite. Adormeci ou desmaiei, não sei bem.
Ouço vozes, sinto uma mão a abanar-me com urgência. Sinto os membros livres apesar de doridos. Consigo mastigar em seco, tenho a boca incrivelmente seca. Tento abrir os olhos e vejo uma luz que me ofusca.
É de dia e fui encontrada no meio de uma floresta.
Vejo uma jovem rapariga a olhar-me aflita.
- Não merecias isto. E não estás sozinha. Estou aqui.
Ouvir uma estranha dizer-me isto, foi estranhamente reconfortante. Até porque eu não tenho ninguém. Estou sozinha. Estico lentamente os braços para ela. e abraço-a com força. Desfaço-me em lágrimas.
- Obrigado... - murmuro.
Ouço sirenes. Era a ambulância. Os paramédicos começaram a avaliar-me antes de me transportarem numa maca para o veículo. A rapariga acompanhou-me. Lá dentro inundaram-me com informação do que poderia fazer, recorrer, os exames que iriam fazer. Não prestei grande atenção.
Cheguei ao hospital, estava vazia. A jovem ficou na sala de espera enquanto eu fui levada para dentro.
- Não vou a lado nenhum. - Prometeu.
Os médicos fizeram-me o exame do kit de violação entre outros exames. Depois veio a polícia conversar comigo. Por fim, veio a notícia que não queria ouvir.
Grávida.
Cláudia Barbosa
Olá, Cláudia,
ResponderEliminarEste conto foi um murro no estômago. As tuas descrições são tão realistas que nos sentimos ali, com a protagonista. Os momentos são tensos e difíceis de ler. Fizeste um ótimo trabalho, parabéns!
Obrigada por teres participado, esperamos ver-te no último tema deste desafio. :)
Um beijinho,
Elisabete.
O conto mais difícil de digerir. Uma realidade crua e terrível que soubeste descrever.
ResponderEliminarAinda me custa ler, mas fizeste um excelente trabalho.